O resultado das provas ja esta disponivel no colegiado. Para quem for fazer, a prova final sera realizada no dia 19 |segunda-feira|, as 9h. Voces devem ler o texto de Adorno e Horkheime |Dialetica do Esclarecimento|, o de Walter Benjamin, o de McLuhan e o de Stuart Hall. Boa Sorte para voces todos.
|Estou sem sinais graficos|
E os Ciborgues, contam carneirinhos elétricos?
Danilo Fraga
Anakin Skywalker tem seu corpo mutilado reconstituído por uma armadura mecânica. Alguns séculos atrás, um monstro criado a partir de cadáveres, alguns relâmpagos e um maquinário “ultra-moderno” já atormentava a vida do pobre Doutor Frankenstein. No Japão, os animes e mangas colocam em questão, a todo o momento, as fronteiras entre o orgânico e o técnico.
De fato, estes delírios febris de ficção científica sempre fizeram parte da imaginação humana. Pelo menos desde o Iluminismo, nossas narrativas estão cheias de seres artificiais que ganham vida através técnica. Porém, com os avanços da medicina, da robótica e das pesquisas sobre inteligência artificial, o que antes estava confortavelmente confinado ao plano dos sonhos se aproxima cada vez mais perigosamente da realidade.
Vivemos em um mundo em que um coração artificial é uma realidade plausível, existem homens com chips implantados no corpo e até animais têm seu código genético alterado só para evitar que os donos sintam alergia a seu pêlo. De um lado, a mecanização do corpo humano. De outro, a humanização das máquinas. A distinção entre o natural e o artificial fica cada vez mais turvas.
Você usa óculos? Tem piercings por todo corpo? Marca passo? Então, desculpe-me a revelação abrupta, mas você também é um ciborgue. Pelo menos é o que pensa a socióloga Donna Haraway, que publicou em 1985 o Manifesto em favor do ciborgue. “Somos todos quimeras, híbridos de máquina e organismo, somos, em suma, ciborgues”, afirma a socióloga que ainda diz mais, “eu também sou um ciborgue”. No manifesto o ciborgue é um mito político e feminista, a dissolução das dicotomias entre operário e máquina, entre homem e mulher. “Estamos falando de formas inteiramente novas de subjetividade. Trata-se de uma nova carne”. Também para o jornalista e escritor de ficção científica, Hari Kunzru “os ciborgues reais têm estado entre nós por quase cinqüenta anos”.
Mas, não se assuste. Ainda existe uma distância confortável entre nós Aproveite sua nova condição. Conecte-se à Internet. Plugue-se a uma tomada. Fique ligado.
Para saber mais:
Antropologia do ciborgue: as vertigens do pós-humano. Donna Haraway e Hari Kunzru, tradução e organização de Tomaz Tadeu da Silva. Editora Autêntica. R$ 19,00.
Quase Lá
Vanguardista e provinciano: a dicotomia que caracteriza inúmeros aspectos da sociedade brasileira está presente também no campo da cibercultura. O fenômeno, presente em todo o mundo em graus variados, já é estudado também no Brasil e comentado abertamente no espaço acadêmico, na mídia e em especial, no seu principal meio: a internet.
As matérias, trabalhos, pesquisas e entrevistas sobre o assunto disponíveis na rede permitem traçar um panorama, ainda que pouco detalhado do nível de adesão da sociedade brasileira na era cyber. No Brasil, a cibercultura é incipiente e anda a passos largos. Convivemos com a pequena parcela de usuários, cujo tempo de permanência online é o maior do mundo, ao mesmo tempo em que enfrentamos um gigantesco problema de exclusão digital (que é também social e econômica). O problema, aliás, começa muito antes da criação do espaço antropológico do saber, na concepção de Pierre Lévy. Começa no espaço da terra. Desse modo, o ambiente da cibercultura fica restrito ao ambiente das classes média e alta e só agora começa a chegar realmente ao ambiente universitário.
Ainda assim, os internautas brasileiros são conhecidos mundialmente por sua entusiasmada adesão a todo o tipo de moda cibernética. Apesar de serem relativamente poucos, os usuários brasileiros parecem buscar a excelência dentro do ciberespaço. Os hackers brasileiros, apesar de em sua maioria não defenderem qualquer ideologia política, ocupam altas posições nos rankings dos mais ativos. O ativismo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra em rede é reconhecido e respeitado em todo o mundo. As maiores capitais já organizam seus próprios “ciber – happenings”, que ocupam espaço na mídia do resto do planeta.
Além disso, a intimidade dos brasileiros comuns já pode ser compartilhada com o mundo através do incrível número de fotologs criados pelos usuários, que já são inclusive odiados pelos que defendem a preservação do meio cibernético. Além disso, a luta pelo software livre dentro das universidades já é ponto sempre presente na pauta dos congressos e discussões sobre inclusão/exclusão digital.
Os estudos em geral trazem uma perspectiva otimista: a maioria dos brasileiros de todas as classes já conhece ou ouviu falar da internet, mesmo que não tenha tido qualquer contato com ela. A mídia brasileira já utiliza largamente o meio e o número de usuários cresce a cada dia. Definitivamente, não se pode esperar dos computadores ou da internet a solução dos problemas brasileiros, muito mais complicada do que um click no mouse. A maioria dos pesquisadores do tema, no entanto, acredita que as possibilidades abertas pela cibercultura podem contribuir com a melhor organização da sociedade, se utilizadas corretamente – como qualquer outra coisa, aliás.
Cibercultura
É preciso evitar uma visão tecnicista da cibercultura, pensa-la como apenas o resultado do ação das novas tecnologias sobre a cultura é um erro. Não existe esse distanciamento entre a esfera do social e a técnica. Cibercultura deve ser pensada como apenas um outro para designar a cultura contemporânea, o que nós vivemos hoje. A cibercultura designa essa cultura que se estabelece a partir da “sinergia entre a sociabilidade contemporânea e as novas tecnologias de base micro-eletrônica” (LEMOS 2002 p. 111. Não é assunto para filmes de ficção cientifica, é uma realidade que se desenrola diante dos nossos olhos, é um modo de viver que conta com computadores, redes telemáticas e todas essas coisas que fazem parte de nosso cotidiano.
Breton costuma dividir a história da informática em três fases: cibernética, a grande informática (mainframes) e a micro-informática. Para ele é a partir terceira fase, que marca o nascimento dos microcomputadores, que podemos falar em surgimento da cibercultura. Somente após a transição de uma computação de uso militar e organizacional para seu uso “dionisíaco”, como um meio de comunicação e entretenimento, o computador teve um impacto social considerável. Entretanto outra grande transformação da computação que teve um impacto direto na cibercultura foi a instituição do ciberespaço, que alguns classificam como quarta fase da informática. Seria nessa fase que a cibercultura se constituiria com seus traços mais nítidos na passagem de um PC (personal computer) para o CC (computador coletivo) e a criação de todo um novo espaço social, o ciberespaço.
O termo ciberespaço foi cunhado por Willian Gibson, em seu romance de ficção Neuromancer, para descrever um “alucinação consensual, realizada por milhões de operadores no mundo inteiro”(Gibson 1994). É importante lembrar que o ciberespaço tem, além de sua estrutura material, um caráter subjetivo e se trata de um novo espaço sociológico onde acontecem trocas simbólicas.
Outra característica importante é a possibilidade de comunicação que diversos aparelhos encontram atualmente. Tudo em rede. Lemos diz: “O ciberespaço é assim, uma megamáquina civilizacional de conexão generalizada”. Dos grandes computadores que ocupavam grandes espaços e serviam a grandes empresas passamos para os microcomputadores e para os laptops, palms. Assim estamos cada vez mais imersos na rede, a imersão da rede nos objetos cotidianos nos faz ter um relacionamento cada vem mais natural com ela. É exatemente isso que condena os estudos em cibercultura ao desaparecimento, tal como a rede se dilui nos objetos cotidianos, o campo da cibercultura caminhará para ser englobado por outros campos.
Os Hackers: Informática e Microinformática
É inegável a má fama que os Hackers têm hoje. Má fama essa que vêm mais da falta de conhecimento que por mérito do Hackers. É sabido que os Hackers atacam diversos sites, mas é interessante realizar uma diferenciação entre Hackers e Crackers. Os Hackers lutam pela liberdade e a normatização da rede, têm alguma ideologia, mesmo que esta seja dispersa e incipiente, na maioria das vezes. Muitas das conquistas da computação vêm do trabalho dos Hackers. Pode-se dizer até que eles são os verdadeiros responsáveis pelo nascimento e desenvolvimento da micro-informática. Desde os anos 70 muitas das descobertas no campo da microinformátia não provém da IBM ou da Pentium, mas de hackers que criaram o modem, Gnu-linux etc.
Interatividade
Interatividade está na moda, modelos interativos chegam para suplantar uma comunicação emissor receptor, linear, desigual e perversa onde o emissor tem a onipotência da mensagem e ao receptor a passividade. Hoje em dia, entretanto, tende-se a pensar tudo como interativo, uma rede diversos pontos interligados formando uma malha de intermináveis conecções. Estamos sujeitos a constantes comunicações, todos são emissores e receptores, porém ativos, de um processo comunicativo interminável. Primeiro vou definir Interatividade.
Segundo André Lemos a interatividade se divide em:
Interatividade Social: Surge no século XIX, é o diálogo entre pessoas, face a face
Mecânico: Analógico, como trocar de canal em uma televisão
Eletrônico: Digital, onde uma ação acarreta uma reação complexa, onde se age sobre o conteúdo.
É importante lembrar que se pode atuar em mais de um tipo de interatividade de um só tempo. Ao entrar num chat, por exemplo, se pratica interatividade mecânica (com o teclado), eletrônica (com a rede) e social (com quem se estiver conversando).
Para Lippman, pesquisador do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), pode-se definir interatividade como uma “atividade mútua e simultânea da parte dos dois participantes, normalmente trabalhando em direção de um mesmo objetivo” . Mas ainda existe uma grande confusão entre sobre o conceito de interatividade. Para alguns, a verdadeira interatividade deveria dar total autonomia ao espectador, entretanto os sistemas trabalham com uma gama pré-determinada de escolhas, no videogame por exemplo. Não existiria, assim, verdadeira interatividade. André Lemos aposta na noção de graus de interatividade sendo o Big Brother pouco interativo em relação a um jogo de videogame, por exemplo.
E os Ciborgues, contam carneirinhos elétricos?
Onde termina o homem e começa a máquina? Temos a sombra do ciborgue dos dois lados da fronteira que separa o organismo da máquina. De um lado temos seres humanos que se tornam cada vez mais “artificiais”, temos vacinas, próteses e implantes, a evolução da nanotecnologia aponta novos caminhos a serem seguidos. Do outro lado temos seres artificiais que simulam características humanas, cada vez melhor. Os avanços da inteligência artificial contribuem para isso. Temos a mecanização do homem indo de encontro com a subjetivação da máquina.
O ciborgue e o ser humano descobrem-se, então, semelhantes, ou descobrem que as fronteiras entre ambos eram muito mais uma ficção do que poderiam imaginar. Afinal, vivemos em um mundo em que um coração artificial permanente é uma realidade bastante plausível, existem homens com chips implantados no corpo e até os gatos correm o risco de ter seu código genético alterado só para evitar que os donos sintam alergia ao pêlo.
O advento de práticas biotecnológicas trazem um certo desconforto ao homem, que não pode mais enumerar as propriedades corporais próprias ser humano. Qual a essência do homem? Temos um problema ontológico. Tais aspectos formam as bases da compreensão de um momento histórico no qual a forma como existimos muda qualitativamente, pois nos tornamos cada vez mais objetos tecnológicos, ou ciborgues.
Não pretendo dizer que o processo de artificialização da sociedade começou com as novas tecnologias. Deve-se superar essa dicotomia entre o natural o artificial, em nenhuma fase do processo evolutivo, o homem dependeu apenas de suas habilidades orgânicas. Desde que o homem fundou a sociedade, fez uso da técnica para modificar o mundo natural, a sociedade é, neste sentido, algo contra-natural. A técnica foi a primeira característica do homem. Começamos a caminhar para a sermos ciborgues quando começamos a ser homens.
Distinções que pareciam bastante claras em um momento passado ficam cada vez mais turvas. Diferente do golem, automatos e outros seres artificiais, o ciborgue, como explorado em Donna Haraway, escapa à distinções tão comuns como humano/máquina ou natureza/cultura, difundidas em nosso pensamento, ao mesmo tempo em que nos ajuda a compreender um mundo onde tais distinções parecem fazer cada vez menos sentido. O ciborgue, segundo Haraway, não procura mais se enquadrar na sociedade. Ele modifica a própria sociedade.
Nesse contexto, o pensamento humanista teria que ser, logo de início, repensado, e ceder lugar a um outro pensamento que vê o mundo sem gênese e sem fim, onde os "indivíduos", os ciborgues não mais teriam o incomodo das fronteiras definidas, mas tomariam para si responsabilidade na sua construção, ou desconstrução.
Arte e as novas tecnologias
Com o aparecimento das novas tecnologias, houve um acréscimo de novos sistemas de produção de arte. Foram geradas novas poéticas, poéticas digitais, o que forçou uma flexibilização nos domínios do artístico. Não se pode pensar, porém, essa nova forma de arte como um puro reflexo das novas tecnologias no fazer artistico, se deve pensar, ao contrário, em um sinergia entre a arte e os novos meios eletrônicos.
Podemos dividir a relação da criação artística com seu modo de produção em três momentos históricos: uma época pré-industrial, a era industrial e o momento que nós vivemos, a época pós-industrial. No primeiro dele, a utilização de ferramentas manuais sugere uma fazer artístico artesanal, a obra de arte possuia um valor de culto, sua aura dependia de sua originalidade. Em um segundo período, prevaleceu a utilização dos novos meios tecnológicos na reprodução da arte. A fotografia e o cinema, formas de arte nascidas nessa época, têm a reprodução em sua essência . Esta é a época da reprodutibilidade técnica mencionada por Benjamin.
O que vivemos hoje é algo totalmente diferente. A utilização de sistemas eletrônicos na produção de formas artísticas traz a possibilidade da obra ser atualizada em infinitos lugares ao mesmo tempo. Passamos do culto ao original, ao exposto para chegar a um “valor de recriação” como posto por Mônica Tavares.
É evidente que a modificação no modo produtivo traz novas características à imagem eletrônica. Por ser organizada por meio de códigos binários, o produto artistico na era das novas tecnologias apresenta uma estrutura digital, diferente da estrutura analógica das demais obras de arte, a obra de arte de nossa era se caracterisa por uma pura imaterialidade, se compõe de informação, é virtual, podendo se atualizar em um imagem real. As novas formas de concervação e transmissão da imagem também merecem ser repensadas. Cada atualização da obra virtual não pode ser consierada uma cópia, essas imagens se mantêm a mesma não importa o lugar ou o tempo em que se apresentem.
Jornalismo online e o hipertexto
Acho que é facilmente notável que o jornalismo encontra-se em um estágio de reconfiguração em sua relação de produção, tratamento e disseminação da noticia ao incorporar recursos digitais as suas rotinas de trabalho. Não se pode pensar o jornalismo online como apenas um jornalismo na rede, mas levar em conta a influência das novas ferramentas de produção e divulgação no fazer jornalístico. O jornalismo on-line não é um novo jornalismo, mas uma reconfiguração do jornalismo na cibercultura. Dentro de algum tempo, não mais existirá o estudo do jornalismo on-line como algo separado do jornalismo.
O que é o virtual ?
No seu uso mais banal, virtual seria o etéreo, a ausência da realidade, opondo, assim, o virtual e o real. O virtual é o real sem seu aspecto material. Essa concepção é por demais simplista. Pierre Levy acredita que se deve contrapor o virtual ao atual, sendo o real o resultado da ação do atual sobre o virtual. “Já o virtual não se opõe ao real, mas sim ao atual” (LEVY).
A atualização e a solução de uma possibilidade. A finalização uma das possibilidades de uma configuração para o plano da realidade, entre um conjunto predeterminado de escolhas. Produzindo, assim, novas possibilidades que alimentam o processo de virtualização. A virtualização, por outro lado, é o movimento inverso à atualização Passar do atual para o virtual, elevar a potência, possibilidade, configurar o futuro num conjunto de fatos possíveis, a serem atualizados.
O fabuloso destino da Teoria Matemática da Comunicação
Há teorias que já nasceram fadadas ao esquecimento, mas outras grudam que nem chiclete na cabeça de pesquisadores, professores e intelectuais de todo mundo - um exemplo perfeito dessa ultima categoria é Teoria Matemática da Comunicação. Adaptada da teoria da informação nos anos 30 por Shanon e Weaver, esse modelo ganhou status de pop star e se tornou, por muito tempo, unanimidade nos estudos de comunicação, tanto para apocalípticos quanto para integrados. Até quando alguém pretendia negá-la negá-lo, não é que a danada volta do túmulo renovada e com novos apetrechos – ruído, canal, feedback entre outros.
Esse sucesso tem seus motivos. Trata-se de uma ferramenta por demais simples que permite descrever o processo comunicativo de maneira funcional e facilmente analisável. A comunicação é consciente, racional, unilateral e linear com uma divisão clara de papeis entre emissor e um pólo receptor - o que o emissor quer é codificar e transmitir a mensagem e o receptor só deseja decodificar e entender tudo direitinho. Funciona muito bem na Teoria da Informação, mas seu uso para descrever a comunicação humana traz sérios problemas.
Existe uma raça de emissores que nasce com uma boca gigantesca e nenhum ouvido ou receptores orelhudos e sem boca? Também não creio que o objetivo principal da maioria dos atos comunicativos seja passar uma mensagem. Existem muitas outras funções da comunicação – como transmitir afetividade ou manter uma amizade. Como pesquisa de campo, tentem observar um casal de namorados conversando. Acreditem, somos capazes de passar horas no telefone sem transmitir um único enunciado racional. Sim, mas dá pra ser de outro jeito? Existe vida na comunicação sem a Teoria Matemática? Claro que sim ! Apesar da Comunicação, com C maiúsculo e metidinha a ciência, ser algo novo, a indagação acerca da atividade comunicativa do homem ocupou filósofos e pensadores desde a Antigüidade Clássica, os tratados de Aristóteles no campo da retórica são um bom exemplo.
Nos anos 50 que um grupo de estudiosos americanos reunidos em uma escola invisível nos arredores de Palo Alto e Filadélfia se debruçaram sobre o fenômeno comunicacional deixando, pela primeira vez, Shannon fora da festa. Partindo da antropologia e da psicologia esses estudiosos dão um rico contributo para a superação do paradigma comunicacional e tentam traçar nova abordagem da comunicação a partir das ciências sociais. O ato comunicativo é, sobretudo, um ato social e envolve necessariamente um certo tipo de relação social. Não é mais importante saber o que é dito, mas sim o contexto e a relação entre os interlocutores. O que parece estar muito mais em consonância com a origem da palavra comunicação – do latim comunicare, significa por em comum.
CCCS: O caminho rumo à recepção
É certo que desde sua infância, os estudos culturais ingleses já demonstravam uma vocação para o estudo da recepção. Em The uses of literacy, um dos textos fundadores da corrente, Hoggart analisa como se dá a relaçao entre a classe operária inglesa e a comunicação de massa e, se não faz exatamente pesquisa de campo, chega perto disso quando baliza suas suposições em sua vivência, e da vivência de sua família como um exemplo da classe operária. Esse livro foi importante na formulação de pressupostos bastante caros aos culturalistas: pensar a atividade da audiência e a cultura em sua relação com a sociedade. Entretanto, entre essa abordagem inicial e as posteriores pesquisas de recepção realizadas pelos estudos culturais, há algumas diferênças marcantes.
É a preocupação dos estudos culturais, herdada de uma tradição marxista, com a relação entre linguagem e ideologia que leva os estudos culturais ao interesse pelo receptor. Da preocupação inicial de produzir uma ação política, preocupação esta que permeia toda história dos estudos culturais britânicos, para a descoberta que a ideologia tem uma existência material (Althusser, Bakhtin), do estruturalismo de Barthes e até a análise da recepção foi um pulo. O que realmente está em jogo nesse caminho é a descoberta que a textualidade é um campo de luta política. De início, o interesse estava em compreender como dos textos da cultura representam a ideologia dominante e entender como utilizar a textualidade para contruir uma nova hegemonia. Entretanto, ao pressupor a recepção como ativa, como um lugar de construção de sentido, os culturalistas perceberam que a verdadeira luta é travada no campo da recepção.
Para entender o sentido de uma mensagem é necessário considerá-la enquanto interpretada em uma dada situação social, histórica e antropológica. O receptor não são sujeitos textuais, mas sujeitos sociais, eles têm uma história, vivem em uma formação social particular. Para os estudos culturais, a audiência é sempre ativa e o signo (o produto) midiático sempre polissêmico (aberto a multiplas interpretações), o que possibilita multiplas interpretações do mesmo evento. É exatamente nessa multipla possibilidade de interpretações que os estudos culturais baseiam seu projeto político. Se é possível que se interprete o produtos de maneira diferente do desejado, pela ideologia dominante, resta aos intelectuais definir um projeto pedagógico que possibilite o homem comum ter competência para enxergar criticamente a ideologia estampada nos produtos consumidos.
Os estudos de recepção abrigam a consideração inicial de Stuart Hall (a figura da foto) e Morley acerca da decodificação das mensagens, os estudos sobre o consumo cultural, investigações de campo sobro o modo como os receptores produzem sentido a partir dos textos midiáticos, além da etnografia da audiência.
Objetividade: um conceito subjetivo
Conta a lenda que Samuel Buckley, ao dirigir o Daily Courant resolveu separar as notícias dos comentários, fazendo da informação a alma de seu jornal e fundando um conceito que iria assombrar gerações e gerações de jornalista: a objetividade. Objetividade diz respeito a objeto, aquele que está em oposição a um sujeito e não tem sua existência condicionada por ele. O discurso jornalístico tem a pretensão de enxergar a realidade, que tem existência fora da mente, e transmiti-la com o mínimo de interferência. Apesar de sua vocação empirista por natureza o jornalismo parece ter herdado do discurso científico nascente o ranço racionalista e universalista que culminaria no positivismo do século XIX.
De fato o discurso jornalístico e o científico utilizam estratégias semelhantes para causar uma impressão de objetividade no leitor. O autor-modelo no jornalismo, tal como na ciência, se esconde por trás de camadas de formalização textual em uma presença/ausente. Toda sua munição retórica é empregada na esperança de fazer crer ao leitor de que ele não existe. A utilização de citações em discurso direto e entre aspas ou a proibição estrita da primeira pessoa do singular são exemplos do esforço empregado para anular o autor no texto. O modelo do jornalismo se sustenta no pressuposto de que a mediação entre o leitor e o fato seja a mais tênue possível.
Porém, para a descrição ou o relato de qualquer fato, não há como separar o objeto real do ato de pensar. Se partimos do pressuposto que a apreensão da realidade não é absoluta, mas está condicionada por diversos fatores culturais e pessoais, podemos chegar facilmente à conclusão de que por mais descritiva que uma matéria for ela produz um outro objeto, a notícia, que não é material. A notícia não está, portanto, no território da objetividade. Faz parte, sim, do território da noticiabilidade dos fatos, que, para a descrição e o relato, devem ser olhados e qualificados, em técnicas de apuração e critérios de noticiabilidade, a partir de valores.
Trata-se, assim, de uma fraude conceptual que tem uma raiz longínqua na ciência nascente do século XVIII. E pensar que toda essa compulsão por objetividade nasceu quando alguém pensou logo existiu.
A mais nova edição da revista Exame traz uma matéria de capa sobre o império Google, muito interessante e pertinente a nós, estudantes de comunicação. Para ler a matéria, clique aqui.
Abaixo, um emeio mandado à facom-list (porque tem muita gente que ainda não se cadastrou) contendo links para um vídeo-previsão sobre o Google, feito pelo Museu de História da Mídia, Flórida -- USA.
Re: [Facom-l] Orkut agora exige cadastro no Google
Para saber o final desta história, assista Epic 2015 (flash movie) em http://www.albinoblacksheep.com/flash/epic
Para quem não domina o inglês, textos com a transcrição da versão anterior do filme (Epic 2004 em http://www.robinsloan.com/epic/ ) e sua tradução estão em http://www.iis.com.br/~cat/goldenlist/epic.htm
¡Hasta, muchachos!
Herbert Marshall McLuhan nasceu a 21 de Julho de 1911, em Edmonton, Canadá. Começou por estudar Engenharia, na Universidade de Manitoba, em 1932, mas acabou por se formar em Literatura Inglesa, em 1934.
Ensinou na Universidade de Wisconsin, entre 1936 e 1937. Fez o mestrado em Cambridge, em 1939, e doutorou-se, em 1943, com uma tese sobre o autor satírico inglês Thomas Nashe.
Entre 1944 e 1946, foi professor na Universidade de Assumption, em Ontário, e na Universidade de Toronto, entre 1946 e 1979. Das suas cerca de 15 obras, fazem parte livros como The Medium is the Massage: An Inventory of Effects, e War and Peace in the Global Village.
McLuhan introduz as frases "o impacto sensorial", "o meio é a mensagem" e "aldeia global" como metáforas para a sociedade contemporânea, ao ponto de se tornarem parte da nossa linguagem do dia a dia.
Adquiriu proeminência internacional com ideias que têm estimulado milhares de artistas, intelectuais e jornalistas, em todo o mundo, ao ponto da revista Fortune o nomear como "uma das principais influências intelectuais do nosso tempo".
As suas publicações contribuíram para combater a inércia de um público tanto académico como popular, numa altura em que o optimismo estava na moda. Segundo a revista The New Yorker, "o que continua importante é a postura global de McLuhan e a sua busca do novo. Ele deu o necessário impulso ao grande debate sobre o que está a acontecer ao Homem nesta idade de rápida aceleração tecnológica".
Em Setembro de 1979, McLuhan sofreu uma trombose que o deixou incapaz de falar, ler ou escrever. Morreu durante o sono a 31 de Dezembro de 1980.
McLuhan, tem uma famosa frase que descreve a TV: Visão, Som e Fúria.
Na sua última aparição na televisão, na Universidade de York, em Toronto, na Primavera de 1979, fez uma síntese final da sua teoria. Tinha começado a olhar todos os artefactos humanos, desde os primeiros instrumentos até aos media electrónicos, incluindo os computadores, como extensões do corpo humano e do seu sistema nervoso - e como componentes da evolução humana, de um modo que Darwin nunca poderia ter imaginado.
Marshall McLuhan parte de uma tese central: o Meio é a Mensagem.[1]. Trata-se de uma formulação excessiva pela qual o autor pretende sublinhar que o meio, geralmente pensado como simples canal de passagem do conteúdo comunicativo, mero veículo de transmissão da mensagem, é um elemento determinante da comunicação. Enquanto suporte material da comunicação, o meio tende a ser definido como transparente, inócuo, incapaz de determinar positivamente os conteúdos comunicativos que veícula. A sua única incidência no processo comunicativo seria negativa, causa possível de ruído ou obstrução na veículação da mensagem. Pelo contrário, McLuhan chama a atenção para o facto de uma mensagem proferida oralmente
ou por escrito, transmitida pela rádio ou pela televisão, pôr em jogo, em cada caso, diferentes estruturas perceptivas, desencadear diferentes mecanismos de compreensão, ganhar diferentes contornos e tonalidades, em limite, adquirir diferentes significados. Por outras palavras, para McLuhan, o meio, o canal, a tecnologia em que a comunicação se estabelece, não apenas constitui a forma comunicativa, mas determina o próprio conteúdo da comunicação.
e, 2) identificar as características específicas de cada um desses diferentes meios de comunicação. São estes dois vectores de investigação que estão na raíz das suas duas obras fundamentais, a saber: Understanding Media [2], de 1964, na qual procura determinar as propriedades diferenciadores de cada um dos meios de comunicação [3] e The Gutenberg
Galaxy de 1962 - a sua obra mais importante - na qual procede à análise da evolução mediática, a seu ver determinante das transformações da cultura humana.
[2] Understanding Media: The extensions of Man, New York: McGrow-Hill Book Company, 1964.
[3] A palavra, a escrita, a imprensa, a roda, o avião, a fotografia, o automóvel, a publicidade, o telégrafo, o telefone, o cinema, a rádio, a telavisão, são alguns dos títulos dos capítulos sobre os quais McLuhan aí debruça.
Arte....
Quem for assistir à peça, além de vários minutos envolvido numa situação tão humama e rotineira [impossível não se identificar com o trama!] e cuja representação é muito bem assumida pelos 3 atores da peça, será agraciado com um português tão bem escrito e falado - fato que acaba remetendo um saudosismo romântico que visavam os símbolos da brasilidade!
Eu realmente não definiria a peça como de cunho modernista, apenas.Diria que ela tem em si elementos realistas (eufemizados), românticos, barrocos e até, (quem diria!) parnasianos!
A única coisa que poderíamos caracterizar como sendo o "ladrão da aura", fugindo, é claro, da generalização de Adorno e Horkheimer, é o desfecho da peça, que se caracteriza pelo 'Happy end'. Porém - permitam a abertura deste parênteses- é um final feliz de uma sacada genial!
Mari! Queria dizer que só abri uma nova publicação no Blog, acerca do mesmo assunto, por não saber se as pessoas que visitam o site lêem os cometários, pois eu queria indicar uma crítica da peça feita pelo Gabriel do PET. Esta crítica está muito bem escrita e retrata, de maneira quase verossímel - temos que nos lembrar do lado subjetivo do julgamento dele -a produção teatral, em cartaz no Teatro Molière, no Aliança Francesa.
Theodor Adorno
Theodor Wiesengrund-Adorno nasceu em 1903, em Frankfurt, cidade onde fez seus primeiros estudos e em cuja universidade se graduou em filosofia. Em Viena, estudou composição musical com AIban Berg (1885-1935), um dos maiores expoentes da revolução musical do século XX. Em 1932, escreveu o ensaio A Situação Social da Música, tema de inúmeros outros estudos: Sobre o Jazz (1936), Sobre o Caráter Fetichista da Música e a Regressão da Audição (1938), Fragmentos Sobre Wagner (1939) e Sobre Música Popular (1940-1941). Em 1933, com a tomada do poder pelos nazistas, Adorno foi obrigado a refugiar-se na Inglaterra, onde passou a lecionar na Universidade Oxford, ali permanecendo até 1937. Nesse ano, transferiu-se para os Estados Unidos, onde escreveria, em colaboração com Horkheimer, a obra Dialética do Iluminismo (1947). Foi também nos Estados Unidos que Adorno realizou, em colaboração com outros pesquisadores, um estudo considerado posteriormente como um modelo de sociologia empírica: A Personalidade Autoritária. Esta obra foi publicada em 1950, ano em que Adorno pôde regressar à terra natal e reorganizar o Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt. Entre outras obras publicada ficadas por Adorno, antes de sua morte, ocorrida em 1969, tem ainda a Metacrítica da Teoria do Conhecimento - Estudos Sobre Husserl e as Antinomias Fenomenológicas (1956), Dissonâncias (1956), Ensaios de Literatura I, II e III (1958 a 1965), Dialética Negativa (1966), Teoria Estética (1968) e Três Estudos Sobre Hegel (1969).
O termo foi empregado pela primeira vez em 1947, quando da publicação da Dialética do Iluminismo, de Horkheimer e Adorno. Este último, numa série de conferências radiofônicas, pronunciadas em 1962, explicou que a expressão “indústria cultural” visa a substituir “cultura de massa”, pois esta induz ao engodo que satisfaz os interesses dos detentores dos veículos de comunicação de massa. Os defensores da expressão “cultura de massa” querem dar a entender que se trata de algo como uma cultura surgindo espontaneamente das próprias massas. Para Adorno, que diverge frontalmente dessa interpretação, a indústria cultural, ao aspirar à integração vertical de seus consumidores, não apenas adapta seus produtos ao consumo das massas, mas, em larga medida, determina o próprio consumo. Interessada nos homens apenas enquanto consumidores ou empregados, a indústria cultural reduz a humanidade, em seu conjunto, assim como cada um de seus elementos, às condições que representam seus interesses. A indústria cultural traz em seu bojo todos os elementos característicos do mundo industrial moderno e nele exerce um papel específico, qual seja, o de portadora da ideologia dominante, a qual outorga sentido a todo o sistema. Daí fada à ideologia capitalista, e sua cúmplice, a indústria cultural, contribui eficazmente para falsificar as relações entre os homens, bem como dos homens com a natureza, de tal forma que o resultado final constitui uma espécie de antiiluminismo. Considerando-se, diz Adorno, que o iluminismo tem como finalidade libertar os homens do medo, tornando-os senhores e liberando o mundo da magia e do mito, e admitindo-se que essa finalidade pode ser atingida por meio da ciência e da tecnologia, tudo levaria a crer que o iluminismo instauraria o poder do homem sobre a ciência e sobre a técnica. Mas ao invés disso, liberto do medo mágico, o homem tornou-se vítima de novo codilho: o progresso da dominação técnica. Esse progresso transformou-se em poderoso instrumento utilizado pela indústria cultural para conter o desenvolvimento da consciência das massas. A indústria cultural, nas palavras do próprio Adorno, “impede a formação de indivíduos autônomos, independentes, capazes de julgar e de decidir conscientemente”. O próprio ócio do homem é utilizado pela indústria cultural com o fito de mecanizá-lo, de tal modo que, sob o capitalismo, em suas formas mais avançadas, a diversão e o lazer tornam-se um prolongamento do trabalho. Para Adorno, a diversão é buscada pelos que desejam esquivar-se ao processo de trabalho mecanizado para colocar-se, novamente, em condições de se submeterem a ele. A mecanização conquistou tamanho poder sobre o homem, durante o tempo livre, e sobre sua felicidade, determinando tão completamente a fabricação dos produtos para a distração, que o homem não tem acesso senão a cópias e reproduções do próprio trabalho. O suposto conteúdo não é mais que uma pálida fachada: o que realmente lhe é dado é a sucessão automática de operações reguladas. Em suma, diz Adorno, “só se pode escapar ao processo de trabalho na fábrica e na oficina, adequando-se a ele no ócio”. Tolhendo a consciência das massas e instaurando o poder da mecanização sobre o homem, a indústria cultural cria condições cada vez mais favoráveis para a implantação do seu comércio fraudulento, no qual os consumidores são continuamente enganados em relação ao que lhes é prometido, mas não cumprido. Exemplo disso encontra-se nas situações eróticas apresentadas pelo cinema. Nelas, o desejo suscitado ou sugerido pelas imagens, ao invés de encontrar uma satisfação correspondente à promessa nelas envolvida, acaba sendo satisfeito com o simples elogio da rotina. Não conseguindo, como pretendia, escapar a esta última, o desejo divorcia-se de sua realização que, sufocada e transformada em negação, converte o próprio desejo em privação: A indústria cultural não sublima o instinto sexual, como nas verdadeiras obras de arte, mas o reprime e sufoca. A situação erótica, conclui Adorno, une “à alusão e à excitação, a advertência precisa de que não se deve, jamais, chegar a esse ponto”. Tal advertência evidencia como a indústria cultural administra o mundo social.
A maior parte dos escritos de Horkheimer encontra-se nas páginas da Revista de Pesquisa Social. Entre os mais importantes contam-se: Inícios da Filosofia Burguesa da História (1930), Um Novo Conceito de Ideologia (1930), Materialismo e Metafísica (1930), Materialismo e Moral (1933), Sobre a Polêmica _ do Racionalismo na Filosofia Atual (1934), O Problema da Verdade (1935), O Último Ataque à Metafísica (193 7) e Teoria Tradicional e Teoria Crítica (1937).
Outros elementos de crítica ao positivismo, encontram-se em uma conferência (com o título Sobre o Conceito de Razão) de Horkheimer, em 1951, onde ele afirma que o positivismo caracteriza-se por conceber um tipo de razão subjetiva, formal e instrumental, cujo único critério de verdade é seu valor operativo, ou seja, seu papel na dominação do homem e da natureza. Desse ponto de vista, os conceitos não mais expressam, como tais, qualidades das coisas, mas servem apenas para a organização de um material do saber para aqueles que podem dispor habitualmente dele; assim, os conceitos são considerados como meras abreviaturas de muitas coisas singulares, como ficções destinadas a melhor sujeitá-las; já não são subjugados mediante um duro trabalho concreto, teórico e político, político, mas exemplificados abstrata e sumariamente, através daquilo que se poderia chamar um decreto filosófico. Dentro dessas coordenadas, a razão desembaraça-se da reflexão sobre os fins e torna-se incapaz de dizer que um sistema político ou econômico é irracional. Por cruel e despótico que ele possa ser, contanto que funcione, a razão positivista o aceita e não deixa ao homem outra escolha a não ser a resignação. A teoria justa, ao contrário escreve Horkheimer, “nasce da consideração dos homens de tempos em tempos, vivendo sob condições determinadas e que conservam sua própria vida com a ajuda dos instrumentos de trabalho”. Ao considerar que a existência social age como determinante da consciência, a teoria crítica não está anunciando sua visão do mundo, mas diagnosticando uma situação que deveria ser superada.
Num dia qualquer de 1940, no lado espanhol da fronteira entre a França e a Espanha, um funcionário da alfândega, cumprindo ordens superiores, impediu a entrada de um grupo de intelectuais alemães que fugia da Gestapo, a temível corporação nazista. Um dos integrantes do grupo, homem de quarenta e oito anos de idade, que estampava no rosto sinais de profunda melancolia, mas ao mesmo tempo transmitia a impressão de um intelecto privilegiado, não resistiu à tensão psicológica e suicidou-se.
O fato poderia ser visto apenas à luz da psicologia individual, mas na verdade transcende esses limites e adquire dimensão social e cultural mais ampla. O intelectual em questão era Walter Benjamin, um dos principais representantes da chamada Escola de Frankfurt.
Seus colaboradores estiveram sempre na primeira linha da reflexão crítica sobre os principais aspectos da economia, da sociedade e da cultura de seu tempo; em alguns casos chegaram mesmo a participar da militância política. Por tudo isso, foram alvo de perseguição dos meios conservadores, responsáveis pela ascensão e apogeu dos regimes totalitários europeus da época.
Fundado em 1924, o Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt, do qual a revista era porta-voz, foi obrigado, com a ascensão ao poder na Alemanha do nacional-socialismo, em 1933, a transferir-se para Genebra, depois para Paris, e, finalmente, para Nova York. Nesta cidade a revista passou a ser publicada com o título de Estudos de filosofia e Ciências Sociais. Com a vitória dos aliados na Segunda Guerra Mundial, os principais diretores da revista puderam regressar à Alemanha e reorganizar o Instituto em 1950.
Os colaboradores da revista opunham-se aos periódicos e instituições de caráter acadêmico, desenvolvendo um pensamento comum nesse sentido, sem que isso, contudo, anulasse interesses e orientações individuais e, sobretudo, sem que fossem postas de lado as exigências de rigor científico. Gian Enrico Rusconi, outro estudioso da Escola de Frankfurt, chama a atenção para o fato de que o pensamento desse grupo não pode ser compreendido sem ser vinculado à tradição da esquerda alemã. Para Rusconi, o significado histórico e político das reflexões encontradas na Revista de Pesquisa Social reside em sua continuidade em relação ao marxismo e à ciência social anticapitalista.
Ainda segundo Rusconi, a “teoria crítica” , como costuma ser chamado o conjunto dos trabalhos da Escola de Frankfurt, é uma expressão da crise teórica e política do século XX, refletindo sobre os seus problemas com uma radicalidade sem paralelo. Por isso, os trabalhos de seus pensadores exerceram grande influência, direta em alguns casos, indireta noutros, sobre os movimentos estudantis, sobretudo na Alemanha e nos Estados Unidos, nos fins da década de 60.
A história desse grupo de pensadores pode ser iniciada com a fundação do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt, sob direção de Carl Grünberg, que permaneceu no cargo até 1927. Grünberg abria o primeiro número do Arquivo de História do Socialismo e do Movimento Operário (publicação que fundou em 1911), salientando a necessidade de não se estabelecer privilégio especial para esta ou aquela concepção, orientação científica ou opinião de partido. Grünberg estava convencido de que qualquer unidade de pontos de vista entre os colaboradores prejudicaria os fins críticos e intelectuais da própria iniciativa. Posteriormente, já na direção da Revista de Pesquisa Social, ele próprio se consideraria um marxista, mas entendendo essa posição não em seu sentido apenas político-partidário, mas em seu significado científico; o conceito “marxismo” servia-lhe para descrição de um sistema econômico, de uma determinada cosmovisão e de um método de pesquisa bem definido. Essa postura inicial de Grünberg – vinculada a uma “escola” de pensamento, mas ao mesmo tempo entendendo-a em sua dimensão crítica e como perspectiva aberta – constitui, de modo geral, a tônica do pensamento dos elementos do grupo de Frankfurt.
Os homens e suas obras:
Entre todos os elementos vinculados ao grupo de Frankfurt, salientam, por razões diversas, os nomes de Walter Benjamin, Theodor Wiesengrund-Adorno e Max Horkheimer, aos quais se pode ligar o pensamento de Jürgen Habermas. Esses autores formaram um grupo mais coeso e em suas obras encontra-se um pensamento dotado de maior unidade teórica.
Walter Benjamin
Os traços biográficos e o perfil humano de Walter Benjamin são os mais conhecidos entre esses quatro pensadores de Frankfurt; sua morte, quando era ainda relativamente moço (48 anos) e em circunstâncias trágicas, deixou marca indelével entre os amigos. Walter Benjamin nasceu em Berlim, em 1892, de ascendência israelita. Seus estudos superiores foram iniciados em 1913 e realizados em várias universidades, nas quais sempre exerceu intensa atividade política e cultural entre os colegas. Em 1917, casou-se e passou a viver em Berna (Suíça), em cuja universidade apresentou uma dissertação acadêmica intitulada O Conceito de Crítica de Arte no Romantismo Alemão. Em 1921, publicou uma tradução dos Quadros Parisienses de Baudelaire (1821-1867) e no ano seguinte o poeta e dramaturgo Hugo Von Hofmannsthal (1874-1929) o convidou para publicar na revista que dirigia (Novas Contribuições Alemãs) seu primeiro grande ensaio: As “Afinidades Eletivas” de Goethe. Em 1928, Walter Benjamin viu truncadas suas esperanças de uma carreira universitária, quando a universidade de Frankfurt recusou sua tese: As Origens da Tragédia Barroca na Alemanha. Para assegurar a sobrevivência, passou então a dedicar-se à crítica jornalística e a traduções, escrevendo ainda numerosos ensaios. Nessa época, fez uma das mais perfeitas traduções em língua alemã que se conhece: À Procura do Tempo Perdido, de Proust (1871-1922). Além disso, projetou uma grande obra de filosofia da história, cujo título deveria ser Paris, Capital do Século XIX e que ficou incompleta. A década de 1930 trouxe-lhe outros infortúnios: seus pais faleceram, teve de divorciar-se da esposa e viu ascender o totalitarismo nazista. Sob a ditadura de Hitler, ainda conseguiu publicar alguns trabalhos menores, recorrendo ao disfarce de pseudônimos. Em 1935, foi obrigado a refugiar-se em Paris, onde os dirigentes emigrados do Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt receberam-no como um dos seus colaboradores e deram-lhe condições para escrever alguns de seus mais importantes trabalhos: A Obra de Arte na Época de suas Técnicas de Reprodução, Alguns Temas Baudelairianos, O Narrador, Homens Alemães. Finalmente veio a falecer na fronteira entre Espanha e França, em circunstâncias dramáticas.
Benjamin considera ainda que a natureza vista pelos olhos difere da natureza vista pela câmara, e esta, ao substituir o espaço onde o homem age conscientemente por outro onde sua ação é inconsciente, possibilita a experiência do inconsciente visual, do mesmo modo que a prática psicanalítica possibilita a experiência do inconsciente instintivo. Exibindo, assim, a reciprocidade de ação entre a matéria e o homem, o cinema seria de grande valia para um pensamento materialista. Adaptado adequadamente ao proletariado que se prepararia para tomar o poder, o cinema tornar-se-ia, em conseqüência, portador de uma extraordinária esperança histórica.
Em suma, a análise de Benjamin mostra que as técnicas de reprodução das obras de arte, provocando a queda da aura, promovem a liquidação do elemento tradicional da herança cultural; mas, por outro lado, esse processo contém um germe positivo, na medida em que possibilita I outro relacionamento das massas com a arte, dotando-as de um instrumento eficaz de renovação das estruturas sociais. Trata-se de uma postura otimista, que foi objeto de reflexão crítica por parte de Adorno.